sábado, 18 de junho de 2016

AÇORES : DA IDENTIDADE AO NACIONALISMO (I)






AÇORES : DA IDENTIDADE AO NACIONALISMO (I)
Por José de Almeida

Preâmbulo
«Conceder Autonomia é ceder Soberania»
Açores : # Somos um Povo * Temos um Território permanente * Somos uma Nação * Seremos um Estado #

(I) SOMOS UM POVO

Da amálgama de colonos portugueses, flamengos, espanhóis e bretões que as Ilhas uniram em casamentos, surgiu um povo ilhéu, um povo que se foi definindo em características próprias, criando a sua personalidade específica, afirmando a sua Identidade - o POVO AÇORIANO.

A insularidade numa mesma latitude, o espírito ilhéu - crente, aventureiro, trabalhador e tolerante - preservando virtudes herdadas, criando usos e tradições, lança entre as Ilhas dos Açores o traço que as unifica, dá-lhes a identidade de um todo com história comum, a história das nossas Ilhas, a história das nossas gentes.

As queixas que se acumularam através dos séculos, por abusos, prepotências e explorações do exercício do poder soberano português, activam e solidificam laços de solidariedade entre as Ilhas que longas práticas administrativas divisionistas lograram quebrar.

O Açoriano cedo sentiu que teria de contar só consigo e defender-se, para sobreviver. Que teria bastar-se nas suas ilhas. Cedo - desde sempre - sentiu a presença soberana de Portugal na tributação do dízimo, dízimo que é trabalho, trabalho açoriano daqui sistematicamente levado para os senhores da Metrópole.

O açoriano sabe que a sua terra estagnou, porque não convinha a Portugal que crescesse. Sempre os interesses dos açorianos foram submetidos e sacrificados aos interesses portugueses, quando em oposição (as fábricas do álcool, por exemplo, foram encerradas, por determinação legal, no fim do século XIX, para protecção do álcool vinícola do continente português).

De Portugal, vêm as leis, a autoridade soberana, a orgânica administrativa, a nomeação doa capitães-donatários, dos governadores, os monopólios: monopólios privados, ontem, monopólios públicos, depois, concretizados em nacionalizações.

Cada vez mais reforçada e pertinaz é a afirmação do Povo dos Açores como tal, face a Portugal, traduzindo-se, ora em protestos contra situações de segregacionismo, ora em movimentos autonómicos, ora, ainda, em movimentos independentistas declarados, movimentos jamais compreendidos e muito menos aceites por Portugal.

Sob o disfarce de "Ilhas Adjacentes" e de enganadoras promessas de "autonomia" - sempre contrariadas na sua realidade executiva - as situações de domínio colonial, mais ou menos mitigada, mais ou menos acentuada, variando ao sabor dos tempos, da força ou demagogia política, foram-se arrastando e persistindo até ao presente.

Este POVO tem, firmado na sua personalidade sócio-histórica, um cunho vincadamente liberal.

.......»


Obsv: Excerto da palestra «Açores: Da Identidade ao Nacionalismo», proferida a 6/6/1988 no Solar da Graça em PDL pelo Dr. Jose Almeida, e inserta no livro de crónicas «L.A.A.P.A.» de João Pacheco de Melo, publicado em 06.06.2009.

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