sábado, 9 de junho de 2018

Contributos para a sustentabilidade dos Açores





Vivemos num mundo que está em permanente transformação
A velocidade com que as transformações ocorrem é de tal ordem que pela primeira vez na História o Homem está a educar e a instruir para um mundo que não consegue prever.

Por outro lado, no mundo em que vivemos a informação circula com nunca imaginamos. Frequentemente acompanhamos acontecimentos que estão a decorrer nas antípodas, recebendopormenores e ouvindo opiniões de pessoas que estão a acompanhar tudo em direto.

Apesar destas transformações, existem aspetos da vida que não variam e que continuam a orientar as populações.

Os países continuam a ser o resultado da vontade dos Homens e continuam a construir-se através de processos onde a cultura, a soberania a e sustentabilidade, têm uma função fundamental. Nós, como açorianos, devemos contribuir para a construção do nosso país, intervindo na dignificação da nossa cultura, intervindo no apoio a todas as ações que envolvam conquista de poder para os Açores, e contribuindo com todo o nosso engenho e saber para a sustentabilidade das nossas ilhas.

Sempre que contribuirmos para uma destas dimensões, estamos a lutar pela independência dos Açores, porque estamos a ajudar a construir um país.

Da mesma forma que os países se constroem, a sustentabilidade também pode ser construída. Nesta área nada é definitivo, hoje pobres, amanhã ricos.

Quem souber otimizar os seus recursos, aproveitar todas as pequenas e grandes oportunidades de negócio, investir criteriosamente, ser criativo, corajoso e rigoroso nos seus investimentos, está certamente contribuir para a sustentabilidade da sua Terra.

Para além de sabermos que a sustentabilidade é determinada por muitos aspetos, também sabemos que muitos destes, resultam de opções políticas que estão associadas a variadíssimos tipos de interesses.

Assim, os interesses políticos podem determinar o sucesso ou insucesso de muitos dos projetos que nos rodeiam.
Nós, como independentistas, devemos intervir denunciando tudo o que está ao serviço de interesses que em nada contribuem para a sustentabilidade da nossa região.
Por outro lado, devemos investir e criar riqueza para que o controlo da nossa economia possa dar mais garantias às gerações vindouras.

Aqui, não devemos ter preconceitos ideológicos. Devemos defender que tanto o setor privado como o público podem contribuir para a nossa sustentabilidade.
Em síntese, áreas como: o comércio, as finanças, os recursos naturais, os transportes, o empreendedorismo, a indústria, os apoios, etc, devem ser norteados pelos interesses dos açorianos.

Porém, constatam-se sinais preocupantes que nos permitem pensar que existem interesses que se sobrepõem à sustentabilidade das nossas ilhas.

Vejam, por exemplo,
Em todo o mundo o negócio da água movimenta milhões. Aqui a nossa água corre para o mar e nós bebemos água vinda de Portugal. Entretanto o exército americano passou a servir a nossa água nas suas bases, porque, segundo eles, é uma água de grande qualidade porque é pouco mineralizada.
Claro que não vamos viver do rendimento da água, mas esta situação é reveladora da lógica que devemos combater.

Energia
Nas sociedades contemporâneas o preço da energia é um fator determinante no sucesso de muitos investimentos.
Também se verifica que por toda a europa as energias alternativas têm vindo a ganhar mercado. Os países fazem gala em apresentar as percentagens de energia limpa que utilizam.

Como consequência, o número de carros elétricos tem aumentado, até porque cada país tem que respeitar a sua quota de dióxido de carbono, Aqui, o número de viaturas elétricas é residual, não havendo incentivos convincentes à sua aquisição.

Este facto não seria preocupante se não verificássemos que, na Ilha de S. Miguel, por exemplo, durante a noite produzimos mais energia do que aquela que conseguimos consumir.
Isto foi constatado há muitos anos, chegando-se mesmo a falar-se numa estação elevatória, como solução.
Porém, tudo continua na mesma e a energia continua a ir para o lixo. Esta situação é de tal forma ridícula que numa situação de máxima produção, durante a noite, mais de metade da energia produzida pela geotermia é deitada fora.
Não seria mais razoável incentivar a aquisição de viaturas elétricas que durante a noite armazenariam a energia que deitamos para o lixo e que durante o dia deixariam de produzir dióxido de carbono?
Não seria mais razoável aplicar esta energia na produção de um produto, como por exemplo a lã de rocha que se faz a partir do basalto?
Mas não. Comportamo-nos como meninos ricos que se dão ao luxo de deitar fora aquilo que poderia contribuir para a sua sustentabilidade.

Mas, como se não bastasse, brevemente o mercado da energética elétrica vai sofrer algumas transformações.
As centrais geotérmicas vão ser expandidas o que vai aumentar a sua capacidade de produção.

Também se prevê a valorização energética dos detritos.
Como resultado, vamos passar a ter uma produção geotérmica 90% superior às necessidades existentes em determinados períodos noturnos.

De toda a produção de energia geotérmica 90% vai para o lixo.
Como esta trapalhada toda, se tivermos em consideração o índice de paridade do poder de compra, os açorianos suportam a segunda energia elétrica mais cara da Europa, para além de consumirem e o gás mais caro.

A energia que desperdiçamos não é suficiente para garantir a nossa sustentabilidade, mas que ajuda, ajuda.

Assim, podemos ver a falta de preocupação que existe para com os nossos interesses.

O que devemos condenar convictamente é esta atitude de despesista.

Sabendo que o custo da energia está a montante de muitos investimentos é legítimo pensar-se que assim estamos a comprometer muitas oportunidades de negócio.

Mar
O mar é um recurso que tem despertado grande curiosidade, envolvendo grupos que guardam religiosamente os resultados das suas pesquisas.

Muito se tem escrito sobre a sua importância na criação de riqueza e muitos têm sido os números que têm vindo a público,porém, mesmo sem sabermos o que está em jogo, já nos foram dizendo que não seremos tidos nem achados na exploração do nosso mar.

Sempre que Portugal perspetiva uma fonte de rendimento considerável vem ao de cima a sua matriz imperial e como se fosse o dono do mundo não olha a meios para garantir “o saque”. Sempre foi assim.
Comércio

O Comércio é cada vez mais controlado por grandes grupos que gerem grandes centrais de distribuição.
Para que os açorianos possam intervir nessa área têm que ser detentores das mesmas armas.

Como consequência, se pretendemos dinamizar o consumo dos nossos produtos, temos que criar uma central de compras de produtos açorianos e temos que ter uma política de distribuição que facilite a comercialização destes mesmos produtos.

Desta forma, podemos ganhar espaço no mercado interno e podemos exportar. Facilitar as trocas entre ilhas será sempre um fator de desenvolvimento, principalmente para as ilhas mais pequenas, porque assim, poder-se-ão viabilizar muitos negócios.

Produzir para um mercado regional, pode fazer a diferença.
Não bastam campanhas do tipo “Consumam Produtos Açorianos” é fundamental que seja adotada uma atitude mais interventiva.

Ainda dentro da área do comércio, sabendo que o Estado tem um peso relativo muito significativo na nossa economia, deveríamos ter conhecimento contributo que este tem dado para o nosso comércio.

Desta forma, deveriam ser divulgados os montantes que a região paga com um IVA de 18% e os montantes pagos com um IVA de 23%, bem como as áreas em que estes montantes são pagos.

Estes dados deveriam ser divulgados pelas Direções Regionais, no caso do Governo dos Açores, e pelas Câmaras Municipais, no caso do poder autárquico.
Quem não deve não teme, diz o povo, por isso não encontramos razões válidas para que estes valores não sejam conhecidos.

Finanças
O mundo financeiro tem-se revelado um desastre. Sendo uma área onde a confiança é determinante. Colocar as nossas poupanças e as nossas necessidades de financiamento nas mãos de estranhos tem-se revelado pouco adequado.
Como resultado muitos açorianos já sentiram efeitos não desejados.

No passado recente, os Açores foram detentores de um Banco e de uma Seguradora. Na altura, com argumentos muito duvidosos criou-se um clima de desconfiança, havendo quem defendesse que as nossas instituições financeiras jamais sobreviveriam no mundo global.

O tempo encarregou-se de demonstrar que tudo não passou de uma patetice. Continuam a existir bancos com a mesma dimensão que honram os seus compromissos e o nosso banco passou a fazer parte de um grupo que, só sobreviveu porque teve uma injeção de dinheiros públicos, para além de ter penalizado muitos açorianos que viram as suas poupanças comprometidas.

A defesa de uma instituição financeira açoriana é uma necessidade que se impõe.
Ninguém melhor do que os nossos pode merecer a nossa confiança.

Façam uma instituição com capitais públicos, façam uma instituição capitais com mistos, mas façam-na.

Transportes
Quando se vive numa região insular os transportes aéreos e marítimos assumem particular importância porque são a porta de entrada e saída para a nossa terra, para além de garantirem a ligação entre ilhas.

Atentos a esta particularidade, não devemos estar dependentes de terceiros, mas também não podemos deixar que se aproveitem desta situação para criarem ninhos de clientelismo. Devemos ter uma empresa de aviação, com base nos Açores, que garanta as ligações entre ilhas, as ligações com os nossos emigrantes e a ligação a Portugal.

O resto só se justifica se der lucro.
O que se passa com a Sata é uma vergonha, passivos monstruosos, rotas ruinosas, aquisições tecnicamente duvidosas, base para alguns aviões em Lisboa, mesmo sabendo que neste aeroporto as taxas são mais caras, etc, etc. Nada disto contribuiu para a saúde financeira dos Açores, por isso não pode ter a nossa concordância.

Ao nível da Indústria, verificamos
Muita da indústria açoriana está a desaparecer. Alguma porque entrou em fim de ciclo e tornou-se inviável. Porém, outras industrias deveriam estar pujantes e só não estão por razões politicas.

Vejamos por exemplo o caso dos refrigerantes e da cerveja. Esta indústria apresenta produtos de reconhecida qualidade. Sem querer denunciar os culpados, apesar de os conhecer, é com enorme tristeza que constatamos que um negócio altamente lucrativo em qualquer parte do mundo, aqui está agonizando.

Nesta fase, quando o turismo começa a ter um crescimento significativo, esta e outras indústrias poderão encontrar um novo mercado que não pode ser esquecido.
Os políticos que andaram a brincar aos industriais com as empresas açorianas têm o dever de arranjar forma de as sanear financeiramente.

Isto de gerir o dinheiro dos outros de forma ruinosa deveria ter um preço. Mas não tem tido e o resultado está aí. Cometem-se as maiores barbaridades e tudo continua como se nada tivesse acontecido.

A manter-se esta lógica, seremos uma Região adiada.
Muito mais poderia ser referido acerca da sustentabilidade das nossas ilhas e da necessidade de passarmos a encará-la como um investimento estratégico.

Mais do que betão, o que necessitamos é de empregos e negócios para que os nossos filhos não partam, porque, caso contrário, seremos cada vez menos.

Acredito que Portugal tem receio de nos ver ganhar sustentabilidade e acredito que para Lisboa assim está tudo bem. Compete-nos a nós alterar esta lógica, ganhar ânimo, e ir à luta.

Temos que otimizar todos os nossos recursos e criar o máximo de riqueza, porque só assim seremos livres.
Queremos uns Açores sustentáveis

Dr. Rui Machado de Medeiros, Presidente do diretório da Frente de Libertação dos Açores

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