quarta-feira, 7 de junho de 2017

6 DE JUNHO : 1975 - 2017




Hoje assinala-se o 42º aniversário da grande manifestação popular do «6 de Junho» , a qual consistiu num vibrante grito de revolta contra o poder centralista e colonialista de Lisboa.
Muitos (ainda hoje!) reivindicam para si a paternidade desta manifestação, mas a verdade é que confluíram para ela muitas motivações, muitos interesses e principalmente muitos ideais.
Quer partidos, quer organizações sócio-laborais, grupos autonomistas e independentistas, ex-militares, retornados do Ultramar, desempregados, emigrantes, pequenos proprietários, lavradores, empregados do comércio, etc, aproveitaram o ensejo para marcarem a sua posição e combaterem o inimigo comum : o poder político (não-democrático) exercido directamente através da ex-capital do Império.
Lembramos, a propósito, que Portugal, à data, vivia um período de efervescência revolucionária (o famoso PREC) onde se digladiavam várias facções políticas, algumas delas manifestamente totalitárias, esquerdistas, fascistas e social-fascistas.
Enquanto Portugal (Madrasta-Pátria para os Açorianos) distribuía, no antigo Ultramar, «independências» a torto e a direito, aqui nos Açores (e na Madeira) a ideia era manter o «statu quo» político-administrativo até então vigente.
Ora, os Açorianos e os Madeirenses, secularmente desprezados, abandonados, espezinhados e explorados pelo Terreiro do Paço, viram chegada a sua hora de libertação.
Não é por acaso que a ideia de independência dos Açores foi de novo recuperada e animou o nosso imaginário e o nosso desejo de Liberdade e Democracia.
Cartazes, tarjas, slogans e palavras de ordem independentista tomaram conta da manifestação e correram mundo.
Se naquela época o MFA - assim como todos os partidos portugueses, desde o CDS até à UDP e MRPP - proclamavam o direito inalienável dos povos à independência, era mais do que natural (e até expectável) que os militares revolucionários e os políticos portugueses respeitassem todos aqueles que nos Açores defendiam essa ideia.
Não foi o que aconteceu. Muito cedo o MFA - e todo o poder em Lisboa - combateu encarniçadamente os independentistas (e até autonomistas), quer através dos militares aqui posicionados, quer através de forças repressivas do Estado ou mesmo através de movimentos políticos aqui instalados e que eram autênticas correias de transmissão de Lisboa e dos seus interesses.
Se na Manifestação do 6 de Junho, o ideal independentista foi um poderoso catalisador, também é verdade que muitos interesses egoístas e de grupo foram à boleia deste sismo social e político. E foram os representantes desses interesses que fizeram abortar o movimento natural da independência e foram eles que mais tarde colheram os proveitos.
O desejo, a vontade e mesmo o sonho da «Livre Administração dos Açores pelos Açorianos» já vinha do final do século XIX, mas foi graças ao 25 de Abril de 1974, que foi possível recuperar essa divisa e até mesmo concretizá-la.
E foi essa circunstância que confundiu e fez desconfiar muita gente, pois dum dia para o outro, viram antigos "salazaristas", "marcelistas", beneficiários e serventuários do Terreiro do Paço a bandear-se hipocritamente para o campo da autonomia e até da independência.
Ora essas conversões «à la minuta» é que foram o «pecado original» do Movimento Independentista.
Em todas as revoluções - e o 6 de Junho de 1975 também o foi - existem os heróis, os mártires,os idealistas, os esquecidos, os oportunistas e os traidores. E, decorridos quarenta e dois anos, tudo isso se verificou. E tudo isso está registado.
Hoje, está à vista de quem estuda estes fenómenos sociais e políticos, que foram os oportunistas e os traidores, que melhor levaram a "água ao seu moinho". Estão bem na vida. Muitos enriqueceram. Bem reformados. Bem subsidiados e bem medalhados por Lisboa.
Mas a História ensina-nos que as maiorias de hoje serão as minorias de amanhã. E vice-versa.
O Processo Histórico - não a História rendilhada, ficcionada e subjectiva que alguns passam o dia a contar e a escrever - é inexorável.
E o 6 de Junho foi (e é!...) uma etapa importante nesse processo.
@ Ryc

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