segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Pai tirano


“Pátria mãe” é como os independentistas açorianos chamam habitualmente Portugal. Antero de Quental, empregando as palavras como só ele sabia fazer, usou o “Quasi patrícios” para diferenciar açorianos de portugueses. Natália Correia, feminina, sofisticada, com uma sensibilidade à flor da pele, chamou “Matria” à “Mãe Pátria”. Partindo do particular (Açores) para o geral, e já pedindo desculpas por não acompanhar tanta eloquência e elegância, mas, “cá à minha maneira”, Portugal, em relação aos vários “filhos” que deixou espalhados pelas sete partidas do mundo, tem-se comportado como um padrasto. Por vezes, mesmo como um pai tirano! Foi assim com o Brasil, onde só o passar dos anos, e a mulata doçura dos “filhos e enteados”, permitem hoje ver naquele país “um imenso Portugal”. Assim foi em Goa, Damão, Diu, e outras possessões para aquelas bandas. Voltou a ser assim na Guiné, em Angola, Moçambique, com os “filhos e enteados”, brutamente negligenciados, e envolvidos em guerras fratricidas que até hoje subsistem. Em Timor ainda foi pior. Ali foi um pai ausente, que fugiu abandonando a família, tendo, felizmente, mais tarde, um rebate de consciência que possibilitou minimizar as desgraças a que sujeitou os enjeitados e desamparados, por lá resistindo às afiadas garras de Suharto. Em São Tomé e Cabo Verde Portugal foi também um pai ausente. Embora, nestes casos, os filhos da irresponsabilidade, de forma especial os cabo-verdianos, soubessem demonstrar como é preferível viver emancipados do que permanecer sujeitos na dependência de um padrasto negligente. Portugal tem nos Açores – e na Madeira – a possibilidade de se cumprir como pai pleno: um pai que se realiza vendo os filhos realizados. Um pai que se orgulha ao ver os filhos tratar da sua própria vida; responsáveis, emancipados, livres.

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